domingo, 22 de abril de 2012

                                     

Alguns passam por essa vida e nos deixam coisas muito valiosas, as quais se constituem num legado. Porém, esse tesouro deve ser compartilhado, propagado, divulgado. Não pode ser guardado ou muito menos olvidado. O esquecimento a que relegamos personagens da nossa cultura e história é algo doloroso e que nos causa grande prejuízo. Entre tantas personalidades, resolvi hoje lembrar de Emygdio de Miranda – um poeta sensível, talentoso, boêmio e pobre, vencido pelo vício do álcool que o levou quando contava apenas 36 anos.

Waldemar Emygdio de Miranda nasceu na cidade do Recife, em 05 de agosto de 1897. De acordo com o pesquisador Luiz Wilson, seus pais foram o professor Auxêncio da Silva Viana e sua esposa D. Maria dos Passos de Miranda Andrade, que se fixaram em Serra Talhada, abrindo uma escola na sua residência, na Praça Sérgio Magalhães, tendo tal fato acontecido no princípio do século passado até mais ou menos o ano de 1920. Ali viveu Emygdio até os 18 ou 19 anos de idade, conforme nos conta Luiz Wilson.


                         


Não devolvas as cartas comovidas
Por muito tempo entre nós dois trocadas
Pode mesmo guardá-las encondidas
Como lembranças de ilusões passadas

Não devolves as flores perfumadas
Que conservaram as nossas mãos unidas
Não,não devolves as tristes margaridas
Nem as brancas saudades desfolhadas

Não devolves os versos de improviso
Que na areia da praia eu te ofertei
Decantando o primôr do teu sorriso

Não,não devolves nada que eu te dei
Mas devolves,devolves que eu preciso
Daqueles mil reais que eu te emprestei .






"Ode ao Pajeú"

Amplo, enorme, a rolar em giros caprichosos,
Desce o rio, invadindo as roças e as pastagens;
E avoluma-se e cresce em convulsões selvagens,
Sultão, domina a várzea e os montes pedregosos...

Escavando os grotões, mergulhando as ramagens,
Passa ufano, a cantar os seus efeitos gloriosos.
Geme o vale humilhado aos ímpetos raivosos,
Desse rio hibernal de eternas vassalagens...

Herói, de inverno a inverno, audaz assoberbado,
Não respeita a miséria e a dor do desgraçado,
Que o trabalho perdeu... a roça... o próprio pão

E sereno, sem dó da dor que rude espalha,
Vai cantando, a rolar... e entre moitas farfalha
E não chora, porque nasceu sem coração
.


                             

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