Alguns passam por essa vida e nos deixam coisas
muito valiosas, as quais se constituem num legado. Porém, esse tesouro
deve ser compartilhado, propagado, divulgado. Não pode ser guardado ou
muito menos olvidado. O esquecimento a que relegamos personagens da
nossa cultura e história é algo doloroso e que nos causa grande
prejuízo. Entre tantas personalidades, resolvi hoje lembrar de Emygdio
de Miranda – um poeta sensível, talentoso, boêmio e pobre, vencido pelo
vício do álcool que o levou quando contava apenas 36 anos.
Waldemar
Emygdio de Miranda nasceu na cidade do Recife, em 05 de agosto de 1897.
De acordo com o pesquisador Luiz Wilson, seus pais foram o professor
Auxêncio da Silva Viana e sua esposa D. Maria dos Passos de Miranda
Andrade, que se fixaram em Serra Talhada, abrindo uma escola na sua
residência, na Praça Sérgio Magalhães, tendo tal fato acontecido no
princípio do século passado até mais ou menos o ano de 1920. Ali viveu
Emygdio até os 18 ou 19 anos de idade, conforme nos conta Luiz Wilson.
Não devolvas as cartas comovidas
Por muito tempo entre nós dois trocadas
Pode mesmo guardá-las encondidas
Como lembranças de ilusões passadas
Não devolves as flores perfumadas
Que conservaram as nossas mãos unidas
Não,não devolves as tristes margaridas
Nem as brancas saudades desfolhadas
Não devolves os versos de improviso
Que na areia da praia eu te ofertei
Decantando o primôr do teu sorriso
Não,não devolves nada que eu te dei
Mas devolves,devolves que eu preciso
Daqueles mil reais que eu te emprestei .
"Ode ao Pajeú"
Amplo, enorme, a rolar em giros caprichosos,
Desce o rio, invadindo as roças e as pastagens;
E avoluma-se e cresce em convulsões selvagens,
Sultão, domina a várzea e os montes pedregosos...
Escavando os grotões, mergulhando as ramagens,
Passa ufano, a cantar os seus efeitos gloriosos.
Geme o vale humilhado aos ímpetos raivosos,
Desse rio hibernal de eternas vassalagens...
Herói, de inverno a inverno, audaz assoberbado,
Não respeita a miséria e a dor do desgraçado,
Que o trabalho perdeu... a roça... o próprio pão
E sereno, sem dó da dor que rude espalha,
Vai cantando, a rolar... e entre moitas farfalha
E não chora, porque nasceu sem coração.
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