sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Grande Poeta Zé Da Luz



Zé da Luz, poeta, das terras nordestinas, nasceu em 29 de março de 1904 em Itabaiana, região agreste da Paraíba e faleceu no Rio de Janeiro em 12 de fevereiro de 1965. Veio ao mundo como Severino de Andrade Silva e recebeu a alcunha de Zé da Luz. Nome de guerra e poesia, nome dado pela terra aos que nascem Josés e, também, aos Severinos, que se não for Biu é seu Zé.

Sua poesia é dita nas feiras, nas porteiras, na beirada das estradas, nas ruas e manguezais. Perdeu-se do seu autor pois em livro não se encontra. Se encontra na boca do povo, de quem tomou emprestado a voz, para dividi-la em forma de rima e verso.

Seus poemas têm a cor do nordeste, o cheiro do nordeste, o sabor do nordeste. Às vezes trágico, às vezes humorado, às vezes safado. Quase sempre telúrico como a luz do sol do agreste





                Uma poesia muito conhecida :


                                           Ai! se sessê!...
                           
Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!

sábado, 23 de outubro de 2010

Zé de Cazuza e Manoel Filó , Grandes gênios da poesia!





Numa amizade, que surgiu ainda na infância, os poetas, Manoel Filó e Zé de Cazuza, edificaram uma relação de respeito, confiança e poesia sobrando. Criaram, juntos ou separadamente, grandes obras da poética sertaneja universal. Durante muitos anos, foram amigos inseparáveis. Viajaram muito pelo sertão afora, atrás de cantorias, de novos poetas e com isso, alargando também, seu rol de amizades. Durante uma dessas viagens, vinham com destino ao Recife, e para passar o tempo na viagem, cantavam de improviso, de onde saíram estes dois, de tantos, belos versos no tema Depois da morte do dia.
Vale dizer, que os versos, de ambos, foram decorados por Zé de Cazuza, conhecido também, como O gravador humano, por conta da facilidade que tem em arquivar no juízo aquilo que lhe desperta o interesse.

Zé de Cazuza

Nesta hora o peregrino
Muda a marcha do andar
Baixa um profundo pesar
Na alma do assassino
Na igreja um velho sino
Saúda a Virgem Maria
Uma mãe na moradia
Beija uma filha que preza
Num casebre um velho reza
Depois da morte do dia.

Manoel Filó

Numa cerca de aveloz
Depois do sol amparado
O vaga-lume assustado
Fica testando os faróis
Os pescadores de anzóis
Embocam na água fria
Ficam naquela agonia
Se uma piaba belisca
Termina roubando a isca
Depois da morte do dia.

Alguns motes com glosas e versos do Livro Poetas Encantadores .



Alguns VERSOS DE ZÉ DE CAZUZA (José Nunes Filho)
Poeta, Repentista, Declamador,
autor do livro POETAS ENCANTADORES

A mulher apareceu,
Apaixonei-me por ela,
Fui limpar ao nome dela,
Terminei sujando o meu.

Do teu riso e tuas frases,
Quisera sempre estar perto,
Teu amor foi um oásis,
Que surgiu no meu deserto.

Sobre dia de Finados

Hoje muita gente veio
Os seus mortos visitar,
Vindo apenas a passeio,
Depois volta pra morar.

Sobre o retirante, este improviso:

O pobre do retirante
Viaja sem rumo certo,
Quando já vai fatigado
Acha um juazeiro perto,
Parecendo um guarda-chuva
Que DEUS armou no deserto.

Sobre o oceano:

Na água do oceano,
Passeia alegre a garoupa,
A ventania agitada
Traz a onda dando poupa,
O sargaço vai saindo
O mar vai limpando a roupa.

Sobre a POESIA:

Quando ouço a POESIA
Fico que não me governo,
O poeta sem cantar
Padece um desgosto eterno,
É mesmo que o sabiá
Passar calado o inverno.

Vejamos essa sextilha,

Eu vou convidar BUCÊ,
Uma distinta pessoa,
perdoe do pobre poeta,
Meu repente, minha loa,
Mas seu nome tiro um fino
Numa coisa muita boa.

A pedido de um ouvinte, glosei este mote:
Anos depois batizou-se pelo precursor João:

JESUS foi circuncidado,
Por uma lei soberana,
Onde a profetiza ANA
Falara do seu reinado,
Com o peito alevantado,
Falou também Simeão,
Após a circuncisão,
Inda mais celebrizou-se.
Anos depois batizou-se
pelo precursor João.

Mote:
Diante da providência a ciência é mentirosa. Improvisei:

Vê-se as flores naturais,
perfumando o ambiente,
parecendo indiferente,
doutras artificiais,
umas cheirando demais,
e outras sem ser cheirosas,
quando o homem faz as rosas
fica faltando a essência,
Diante da providência
a ciência é mentirosa.

SONETO: Partida de minha mãe

Quem da terra partiu levando um riso,
Estampado nos lábios por lembrança,
Com certeza levava a esperança
De alcançar o perdão no paraíso.

Diz o filho sentindo o prejuízo,
A chorar pela mãe que fez mudança,
Aspirando de DEUS a confiança,
De abraçá-la no dia de juízo.

Sobre o seu leito quando morta estava,
Sua bela feição me retratava,
A feição duma santa de capela.

Senti nos olhos arrojado pranto,
A minha mãe que me estimava tanto
Só teve um filho pra chorar por ela.

Os dois retratos:

Sabe o que ficou pra mim
De mãe que nunca me esqueço
Um retrato do começo
E o retrato do fim.
Ambos agradam a mim,
Embora os veja sem gosto,
Um mostra rugas no rosto,
O outro tão diferente,
Um parece o sol nascente,
Outro parece o sol posto.

O meu livro poetas encantadores
contém um elenco fora de série
dos maiores cantadores do passado,
e dos atuais, onde citarei alguns versos dele,
Mote dado a Manoel Xudu:

Quanto é grande o poder do Criador. Que fabuloso improviso:
Analise o caju e a castanha,
São os dois pendurados num só cacho,
Bem unidos, um em cima, outro embaixo,
Porém tendo um do outro a forma estranha,
Dela, extrai o azeite, o sumo, a banha,
Dele, o suco pro vinho e o licor,
Quando ambos maduros mudam a cor
Ele fica amarelo e ela escura,
Mas o gosto dos dois não se mistura,
Quanto é grande o poder do CRIADOR.

Um cantador desafiando PINTO do Monteiro, disse:

Eu admiro o Senhor
Vir dizer a mim que é macho,
Que outro dia um sujeito
Passou-lhe a faca por baixo,
O sangue correu na perna,
Um gato comeu o cacho.

PINTO pegando na deixa, responde:

Disso prevenido me acho
Por um tipo mal e bruto,
Quando vagou a notícia,
Que eu perdia esse produto,
Tua mãe chorou com pena,
Inda hoje anda de luto.

Firmo Batista cantando com PINTO, termina uma sextilha dizendo:

Não sei porque é que PINTO
Só canta aqui nessa esquina.,
Resposta de Pinto:

Aqui é minha oficina,
Onde eu conserto e remendo,
Quando o ferro é grande, eu corto,
Quando é pequeno, eu emendo,
Quando falta ferro, eu compro,
Quando sobra ferro, eu vendo.


PINTO cantando um desafio com Lourival Batista, este termina:

Na cabeça desse PINTO
Eu ainda bato um prego.

PINTO:

Eu ainda te vejo cego,
Sem ter no bolso um vintém,
Pedindo esmola num beco,
Onde não passa ninguém,
Se passar seja outro cego,
Pedindo esmola também.

Biografia de José Nunes Filho (ZÉ DE CAZUZA)

José Nunes Filho , conhecido como Zé de Cazuza, é , sem contestação, a figura maior no universo do Repentismo, no Nordeste .
              Nasceu aos 13 dias do mês de dezembro do ano de 1929 , na Fazenda Boa-Vista , município de Monteiro ,no Estado da Paraíba . Estudou apenas um ano na " ESCOLA RUDIMENTAR MISTA DE BOA VISTA " . Assistiu , com seis anos de idade, pela primeira vez , a uma cantoria realizada por Severino Lourenço Pinto , seu conterrâneo de Monteiro , e Antônio Marinho do Nascimento ,natural de São José do Egito . Continua em suas atividades agropecuaristas, na Fazenda São Francisco , que herdou de seu pai , José Nunes de Souza - Cazuza Nunes - Fazendeiro e Poeta . De estatura mediana , cabeça meio achatada , testa larga , olhos castanhos , ombros um pouco derreados , braços longos , mãos delicadas e nervosas , fala e voz firmes e claras , sorriso simples e espontâneo , passos largos e seguros . Sua aparência física revela o tipo comum do nordestino , com um certo ar de humildade .
                 Mentalmente , é uma pessoa superdotada. Sua inteligência , sua vontade e sua sensibilidade estão acima da média. Tem plena consciência disto. É nobre e digno. Sabe , sem arrogância ,de seu valor e sua importância na cultura de seu povo e de sua região .

               Três Facetas , entre outras , se manifestam nesse homem impressionante : 
    - Memória  fenomenal; acurada capacidade crítica; sensibilidade poética .
     ZÉ DE CAZUZA prestou e ainda presta a cultuara do repentismo, um relevante serviço . Grava na memória privilegiada, faz mais de cinqüenta anos ,centenas senão milhares de poemas , estrofes , versos ,criados ao sabor do improviso nas cantorias e nas reuniões de glosas dos cantadores e poetas nordestinos, produção artística que se teria perdido definitivamente . Hoje , com a tecnologia , tudo se grava e retém. Nas décadas de 40,50,60 no Sertão não se conhecia outro modo de fixar para a posteridade a obra dos repentistas , a não ser a memória dos freqüentadores das festas de poesia . Havia , porém , um gravador perfeito : a cabeça do Poeta e Mestre das Artes Zé de Cazuza , autor do livro Poetas Encantadores . Ele é capaz de recitar sem interrupção , quatro , cinco horas, o que de melhor produziram os cantadores e improvisadores do Ceará , do Rio Grande do Norte , da Paraíba , de Pernambuco , de Alagoas , de Sergipe e da Bahia. Freqüentador de cantorias, ele mesmo,um excelente cantador, amealhou um verdadeiro tesouro de poesia popular que distribui, com generosidade e até com entusiasmo, por onde passa e onde vive. Sua memória é,realmente , um fenômeno .

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Memória viva da poesia popular e cantoria de viola

Zé de Cazuza lança livro com milhares de versos que decorou em mais de 70 anos



O paraibano José Nunes Filho, conhecido como Zé de Cazuza, é fiel depositário da poesia popular e do improviso de viola. Do alto dos seus 80 anos (nasceu em 13 de dezembro de 1929, na fazenda Boa Vista, em Monteiro-PB), ele se mantém com uma capacidade de memória extraordinária e guarda na memória centenas e mais centenas de poemas, causos, canções, pelejas, de alguns dos maiores nomes da história do repente. Parte deste tesouro ele perenizou no livro Poetas encantadores, cuja terceira edição, revista e ampliada, é lançada hoje, a partir das 16h, na Cachaçaria Matulão, no Mercado da Boa Vista. O dom de Zé de Cazuza tem sido aproveitado por muito pesquisadores e historiadores da cantoria de viola. O folclorista Francisco Coutinho Filho, autor do elogiado Violas e repente, lançado em 1953, foi um dos que recorreram a memória de Zé de Cazuza, como escreveu no seu livro: “Desde 23 de março de 1952, venho revolvendo seu riquíssimo arquivo espiritual, onde tenho encontrado preciosos subsídios sócio-históricos para o estudo da poesia folclórica do sertão nordestino”. Zé de Cazuza diz que não se arrepende de ter repassado os versos para Coutinho: “Mas bem que ele poderia ter me dado autoria também no livro, porque mais da metade do que tem ali fui eu que disse a ele”.
Herdeiro de uma tradição de bardos repentistas que remonta aos primeiros grandes nomes do gênero, Zé de Cazuza, cujo pai também era poeta, e em sua casa costumavam ir Lourival Batista e Pinto do Monteiro, dois dos maiores do seu tempo. “Foi ouvindo estes dois que eu comecei a decorar versos. Já fui mais decorador, quando não havia gravador. Agora todo mundo está gravando cantoria. Mas só decoro versos de cantador que merece. Tem muitos deles que têm queixa de mim porque acham que eu não dou valor a eles. Se as pessoas me perguntarem se eles são bons, digo que são boas pessoas, já os versos que fazem... Tem cantador aí que cantou 30 anos em rádio e ninguém lembra um verso dele, se perdeu tudo”, comenta o “Gravador Humano”, seu apelido.
Graças a Zé de Cazuza foram preservados versos de cantadores que ele não chegou a conhecer, que lhe foram ensinados pelos mais velhos ou por alguns que conheceu pouco, como o lendário Antonio Marinho, de São José do Egito. “Quando conheci Antonio Marinho ele já estava bastante doente de tuberculose, não conseguia cantar direito”, lembra Zé de Cazuza, que traz no seu livro versos de marinhos como estes: “O baião muito puxado/Jesus do céu não socorre/vou descansar meu pulmão/ Pinto vai tomar um porre”. Embora tenha convivido com várias gerações de repentistas, não é passadista. Para ele assim como existiram ótimos cantadores no passado, existem ótimos cantadores no presente: “A diferença para o de antigamente é eles eram mais atrasados. Atualmente tem cantadores extraordinários, como Ivanildo Vila Nova, os Nonatos”, diz Zé de Cazuza, que é também poeta e já chegou a ser cantador de viola, mas por pouco tempo: “Ia uma caravana para São Paulo, isto em 1970, eu ia só acompanhar. Iriam seis cantadores, comigo ficava sete. Então tiraram um, e eu fui como cantador. E me sai bem”.




                                                       Deu no Diário de Pernambuco


Após sete décadas convivendo com declamadores, apologistas e repentistas do Sertão nordestino, o paraibano Zé de Cazuza arregaçou as mangas e registrou seu conhecimento em livro. Em quase 400 páginas, Poetas encantadores apresenta o trabalho de 66 poetas. Alguns são famosos, como Pinto do Monteiro, Rogaciano Leite e Lourival Batista, o Louro do Pajeú. Outros são conhecidos somente por quem é do meio. Lançado há três anos e com duas edições esgotadas, o livro chega agora à terceira edição, ampliada e comemorativa dos 80 anos do autor, nascido no município de Prata, no Cariri paraibano. O volume será lançado hoje, às 16h, na Cachaçaria Matulão, que funciona no Mercado da Boa Vista. A entrada é franca. O livro custa R$ 50.
Poetas encantadores foi escrito praticamente a partir das memórias e andanças de Zé de Cazuza com Manuel Filó, Manuel Xudu e Geraldo Amâncio. "Gravei tudo no juízo. Fiz o livro tirando da minha cabeça", garante. O autor não virou as costas para a nova geração. Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, também está representado.
José Nunes Filho, Zé de Cazuza nasceu no sítio Boa Vista, na cidade de Monteiro. Começou a frequentar as cantorias aos cinco anos. Aos seis, já guardava versos na cabeça. Quando se mudou para a zona rural de Prata, foi vizinho de Zé Marcolino, mestre cantado por Luiz Gonzaga. Há cinco anos, foi reconhecido como Mestre das Artes da Paraíba, equivalente ao registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco. Hoje vive no sítio São Francisco, onde trabalha com agricultura e criação de gado. Nas palavras de Jansen Filho, Zé de Cazuza é um "misto de vaqueiro e poeta, alma coberta de sol e poesia". Segundo o folclorista Francisco Coutinho Filho, no livro Violas e repentes, de 1953, ele é "o mais apurado admirador sertanejo da nossa poesia brava".
A veia lírica corre pela família. Seu pai foi o cordelista Cazuza Nunes. De seis filhos, três seguiram carreira artística. Miguel Marcondes e Luís Homero vieram para o Recife e há dez anos fundaram o grupo Vates e Violas; já Felizardo Moura é famoso apresentador de vaquejadas. "As pessoas alertaram que ele estava cedendo material que ele mesmo poderia registrar", diz o Marcondes, sobre a necessidade do registro das memórias do pai em livro. "Ele passou a vida elogiando e recitando grandes cantadores. Um dia, ele percebeu que é um deles".
Zé de Cazuza diz que há uma infinidade de modalidades de cantorias e repentes. Em menos de um minuto, ele lista o desafio, o lirismo, o trocadilho, a irreverente, a narrativa, o mote, o tema e a satírica. E não torce o nariz para a produção urbana, distante dos assuntos clássicos do repertório matuto. "A poesia é boa em todo campo que ela for bem feita. Há os que martelam por muito tempo e não conseguem e os que fazem repentinamente e fica bonito".


Cantoria em Monteiro-PB 06-08-2010

Soneto

Como um sândalo humilde que perfuma,
E o ferro do machado que corta,
Ei de ter a minha alma sempre morta,
Mas não me vingarei de coisa alguma...

Se alguma dia perdida pela bruma,
Resolveres bater em minha porta,
Ao invés da humilhação que desconforta,
Terás um leito sobre um chão de plumas...

Em troca dos desgostos que me destes,
Mais carinho terás do que investes,
Meus beijos serão multiplicados...
Para os que voltam pelo amor Vencido,
A vingança maior dos ofendidos
É saber abraçar os humilhados!!

O grande poeta juntamente com sua família .

O mestre em seus 80 anos,recitando como de costume.

A neta Ágda Moura recitando em um Festival na cidade de Prata-PB, e seu filho Felisardo Moura,apresentando o festival.

O Poeta Zé com seus amigos, Lula Cabral,Zelito Nunes,e Jeneci .

O Poeta,com suas netas gêmeas Lara e Ágda(Filhas de Miguel Marcondes), e sua nora Suzana.


Soneto que o poeta fez a 15 anos atrás dedicado a suas netas .
             
                                      O presente de Suzana
                 

     Sendo ou não em plenilúnio
     preenchendo uma lacuna
     vi chegar o infortúnio
    me trazendo uma fortuna
    Uma mãe não se acostuma
    passar pelas mesmas trilhas
    abraçada a duas filhas
    quem era doida por uma


     Entre cem gemidos meus 
     saindo de um parto gêmeo
     muito obrigado meu Deus
     por tão valioso prêmio

  
     Feliz eu também estou   
     abraçando as duas netas
     o filho é pai ,eu avô
     das filhas dos dois poetas
    

                                                Com um abraço de Zé de Cazuza
                                                          São Francisco , 18 de abril de 1995
.

João Badalo , Zé de Cazuza e Zelito Nunes

Pinto e Zé de Cazuza

Um dia , o poeta Zé de Cazuza foi procurar Pinto em Monteiro, quando este já quase no fim da vida,estava morando definitivamente lá.
Zé  Iria com o poeta Manoel Filó, fazer uma cantoria em Paulo Afonso e como não conduzia viola foi tomar emprestada a do velho cantador.
Era uma viola novinha que o também violeiro, Adauto Ferreira  tinha fabricado especialmente pra ele.
Travaram o seguinte diálogo:
Zé:
– Pinto, eu vim pedir a tua viola emprestada,  pra fazer uma cantoria em Paulo Afonso, com Manoel Filó.
Pinto:
– Acabei de trocar num pandeiro, se quiser pode levar!
Zé:
– Não tô viçando não, Pinto!
(DO LIVRO PINTO VELHO DO MONTEIRO UM CANTADOR SEM PARELHA)

José Lopes Neto - O Grande " Zé Catota "




      José Lopes Neto,conhecido por Zé Catota , Nasceu a 25 de agosto de 1917 ,na Fazenda Riachão,município de São José do Egito . Começou a cantar aos 17 anos de idade . Era desses cantadores com resposta pronta para tudo . Uma vez , cantando com Pedro Amorim,este improvisou uma sextilha dizendo :


                   Vivo muito bem de vida
                   e tu vives atrasado,
                   possuo fazenda,açude
                   e cana,do outro lado,
                   tu só tens um jeep velho,
                   além de velho quebrado.


                   Zé Catota :
                    
                   Chamar fazenda,sem gado,
                   eu acho melhor que deixe;
                   A sua cana cortada,
                   Talvez não dê nem um feixe;
                   Esse açude de que fala
                   Tem mais dono do que peixe.


                  

Grande Antônio Pereira, conhecido como o poeta da saudade.

Conhecido como o poeta da saudade, Antônio Pereira nasceu a 13 de novembro de 1891, no sítio Jatobá, hoje município de Itapetim, onde viveu até a morte, a 07 de novembro de 1982. Violeiro e poeta popular, ele mal assinava o nome e nunca fez da arte a sua profissão, tendo sobrevivido como modesto agricultor.
Antônio Pereira participava de jornadas de improviso apenas com os amigos e os seus versos sobreviveram ao tempo porque eram repassados verbalmente pelos seus admiradores que os decoravam. Em 1980, com a ajuda de amigos, publicou seu único folheto, “Minhas Saudades”, uma coletânea de sua poesia.

Alguns versos do poeta:



Saudade é um parafuso
Que na rosca quando cai,
Só entra se for torcendo,
Porque batendo num vai
E enferrujando dentro
Nem distorcendo num sai. 


Saudade tem cinco fios
Puxados à eletricidade,
Um na alma, outro no peito,
Um amor, outro amizade,
O derradeiro, a lembrança
Dos dias da mocidade.


Saudade é como a resina,
No amor de quem padece,
O pau que resina muito
Quando não morre adoece.
É como quem tem saudade
Não morre, mas adoece. 


Adão me deu dez saudades
Eu lhe disse: muito bem!
Dê nove, fique com uma
Que todas não lhe convêm.
Mas eu caí na besteira,
Não reparti com ninguém.

Zé Marcolino,Manoel Filó e Antônio Pereira .

Manoel Xudú


  
                      Um cantador de versos fáceis

Manoel Xudu era um abençoado de Deus. Certo dia, em seus desafios, um colega abordou:


Caro Manoel Xudu
tenho santa inspiração...
Xudu pega na deixa e diz:
Sou igualmente a pião
saindo de uma ponteira
que quando bate no chão
chega levanta a poeira
com tanta velocidade
que muda a cor da madeira.

Ele foi uma pessoa humilde, tratável e considerava todo cantador maior do que ele. Numa de suas cantorias, chegaram Zé de Cazuza, o famoso Lourival Batista e Heleno Rafael. Ele, emocionado com tão ilustres presenças, assim rompeu seu primeiro repente: 

Cantar pra Zé de Cazuza
pra Lourival, pra Heleno
é mesmo que matar cobra
com um cacete pequeno
pisar na ponta do rabo
sem se lembrar do veneno.

O cantador de repente tem sempre uma especialidade, uma linha, um estilo, uns em sextilhas; outros em mote, etc. Mas Xudu era especialista em tudo. Certa vez, deram-lhe um mote assim:

QUEM PERDE MÃE TEM RAZÃO
DE CHORAR O QUE PERDEU.

Manoel se concentrou, mirou com os olhos da mente o céu da inspiração, e começou:

Minha mãe que me deu papa
me deu doce, me deu bolo
mãe que me deu consolo
leite fervido e garapa
mamãe me deu um tapa
e depois se arrependeu
beijou aonde bateu
acabou a inchação
QUEM PERDE MÃE TEM RAZÃO
DE CHORAR O QUE PERDEU.

De outra vez, Manoel estava cantando e um camarada, meio bêbado, oferecia-lhe cerveja e insistia: "Olha a cerveja, Manoel ! Toma a cerveja!..." Manoel desembuxou e disse:

Deixe de sua imprudência
deixe eu findar a peleja
como é que eu posso cantar
tocar e tomar cerveja
cachorro é que tem três gostos
que corre, late e fareja. 

(Extraído do livro ZÉ MARCOLINO - VIDA, VERSOS, VIOLA)

Cancão





Poeta popular, mais conhecido por Cancão, nasceu em São José do Egito, a 12/05/1912. Em 1950, deixou de participar de cantorias de viola e dedicou-se apenas à poesia escrita. Sua obra já foi classificada pelos críticos como uma versão popular à poesia de poetas românticos como Castro Alves, Fagundes Varela ou Casimiro de Abreu.
Freqüentou a escola por pouco tempo ("não cheguei ao segundo livro") e foi, também, oficial de Justiça em sua cidade, onde morreu a 05/07/1982. Livros publicados: "Meu Lugarejo”, Gráfico Editora Nunes Ltda, Recife, 1978; "Musa Sertaneja" e "Flores do Pajeú". Folhetos de Cordel de sua autoria: "Fenômeno da Noite", "Mundo das Trevas", "Só Deus é Quem Tem Poder".
Cancão deixou Três Livros publicados:
MEU LUGAREJO - 1978 / MUSA SERTANEJA / FLORES DO PAJEÚ
Folhetos de Cordel de sua autoria:
"Fenômeno da Noite", "Mundo das Trevas", "Só Deus é Quem Tem Poder".
 

Do Livro Poetas Encantadores

Num recinto, onde Xudu deleitava a assistência com uma bonita cantoria, entra um bêbado com um copo de cerveja, o conduz à boca do festejado cantador, e pôe-se a repetir:


- Comiiiiiiiigo ôce beeebe e caaanta, tá me ouvindo?

Impaciente, o parceiro de Xudu adverte-o:

Você abusa demais,
Já estou sem paciência.

E Xudu completou:

Deixe de tanta imprudência,
Deixe eu findar a peleja,
Como é que eu posso cantar,
Tocar e beber cerveja?
Quem tem três gostos é cachorro
Que corre, late e fareja.

Em outra cantoria o poeta Furiba entregou-lhe esta deixa:

Vê-se o pequeno saguim
Pulando de pau em pau

Xudu respondeu:

Admiro o pica-pau
Trepado num pé de angico,
Pulando de galho em galho
Tocô, tocô, tico, tico,
Nem sente dor de cabeça,
Nem quebra a ponta do bico.

Manoel Filó, admirável poeta, descrevendo com Xudu a vida dos pássaros, terminou uma sextilha assim:

Pra tão longe a ave voa,
De volta não erra o ninho.

Xudu, arrematando:

A arte do passarinho
Nos causa admiração:
Prepara o ninho de feno,
No meio bota algodão
Para os filhotes implumes
Não levarem um arranhão.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Biografia do Mestre "Zé de Cazuza"

 

José Nunes Filho , conhecido como Zé de Cazuza, é , sem contestação, a figura maior no universo do Repentismo, no Nordeste .
              Nasceu aos 13 dias do mês de dezembro do ano de 1929 , na Fazenda Boa-Vista , município de Monteiro ,no Estado da Paraíba . Estudou apenas um ano na " ESCOLA RUDIMENTAR MISTA DE BOA VISTA " . Assistiu , com seis anos de idade, pela primeira vez , a uma cantoria realizada por Severino Lourenço Pinto , seu conterrâneo de Monteiro , e Antônio Marinho do Nascimento ,natural de São José do Egito . Continua em suas atividades agropecuaristas, na Fazenda São Francisco , que herdou de seu pai , José Nunes de Souza - Cazuza Nunes - Fazendeiro e Poeta . De estatura mediana , cabeça meio achatada , testa larga , olhos castanhos , ombros um pouco derreados , braços longos , mãos delicadas e nervosas , fala e voz firmes e claras , sorriso simples e espontâneo , passos largos e seguros . Sua aparência física revela o tipo comum do nordestino , com um certo ar de humildade .
                 Mentalmente , é uma pessoa superdotada. Sua inteligência , sua vontade e sua sensibilidade estão acima da média. Tem plena consciência disto. É nobre e digno. Sabe , sem arrogância ,de seu valor e sua importância na cultura de seu povo e de sua região .

               Três Facetas , entre outras , se manifestam nesse homem impressionante : 
    - Memória  fenomenal; acurada capacidade crítica; sensibilidade poética .
     ZÉ DE CAZUZA prestou e ainda presta a cultuara do repentismo, um relevante serviço . Grava na memória privilegiada, faz mais de cinqüenta anos ,centenas senão milhares de poemas , estrofes , versos ,criados ao sabor do improviso nas cantorias e nas reuniões de glosas dos cantadores e poetas nordestinos, produção artística que se teria perdido definitivamente . Hoje , com a tecnologia , tudo se grava e retém. Nas décadas de 40,50,60 no Sertão não se conhecia outro modo de fixar para a posteridade a obra dos repentistas , a não ser a memória dos freqüentadores das festas de poesia . Havia , porém , um gravador perfeito : a cabeça do Poeta e Mestre das Artes Zé de Cazuza , autor do livro Poetas Encantadores . Ele é capaz de recitar sem interrupção , quatro , cinco horas, o que de melhor produziram os cantadores e improvisadores do Ceará , do Rio Grande do Norte , da Paraíba , de Pernambuco , de Alagoas , de Sergipe e da Bahia. Freqüentador de cantorias, ele mesmo,um excelente cantador, amealhou um verdadeiro tesouro de poesia popular que distribui, com generosidade e até com entusiasmo, por onde passa e onde vive. Sua memória é,realmente , um fenômeno .

Esse é pra quem ama o Nordeste Brasileiro .

 

        Composição: Bráulio Tavares/Ivanildo Vilanova

Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Dividindo a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria o senador
O cassaco de roça era o suplente
Cantador de viola o presidente
O vaqueiro era o líder do partido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Em Recife o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
“Asa Branca” era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
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