quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Manoel Xudú


  
                      Um cantador de versos fáceis

Manoel Xudu era um abençoado de Deus. Certo dia, em seus desafios, um colega abordou:


Caro Manoel Xudu
tenho santa inspiração...
Xudu pega na deixa e diz:
Sou igualmente a pião
saindo de uma ponteira
que quando bate no chão
chega levanta a poeira
com tanta velocidade
que muda a cor da madeira.

Ele foi uma pessoa humilde, tratável e considerava todo cantador maior do que ele. Numa de suas cantorias, chegaram Zé de Cazuza, o famoso Lourival Batista e Heleno Rafael. Ele, emocionado com tão ilustres presenças, assim rompeu seu primeiro repente: 

Cantar pra Zé de Cazuza
pra Lourival, pra Heleno
é mesmo que matar cobra
com um cacete pequeno
pisar na ponta do rabo
sem se lembrar do veneno.

O cantador de repente tem sempre uma especialidade, uma linha, um estilo, uns em sextilhas; outros em mote, etc. Mas Xudu era especialista em tudo. Certa vez, deram-lhe um mote assim:

QUEM PERDE MÃE TEM RAZÃO
DE CHORAR O QUE PERDEU.

Manoel se concentrou, mirou com os olhos da mente o céu da inspiração, e começou:

Minha mãe que me deu papa
me deu doce, me deu bolo
mãe que me deu consolo
leite fervido e garapa
mamãe me deu um tapa
e depois se arrependeu
beijou aonde bateu
acabou a inchação
QUEM PERDE MÃE TEM RAZÃO
DE CHORAR O QUE PERDEU.

De outra vez, Manoel estava cantando e um camarada, meio bêbado, oferecia-lhe cerveja e insistia: "Olha a cerveja, Manoel ! Toma a cerveja!..." Manoel desembuxou e disse:

Deixe de sua imprudência
deixe eu findar a peleja
como é que eu posso cantar
tocar e tomar cerveja
cachorro é que tem três gostos
que corre, late e fareja. 

(Extraído do livro ZÉ MARCOLINO - VIDA, VERSOS, VIOLA)

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