quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Do Livro Poetas Encantadores

Num recinto, onde Xudu deleitava a assistência com uma bonita cantoria, entra um bêbado com um copo de cerveja, o conduz à boca do festejado cantador, e pôe-se a repetir:


- Comiiiiiiiigo ôce beeebe e caaanta, tá me ouvindo?

Impaciente, o parceiro de Xudu adverte-o:

Você abusa demais,
Já estou sem paciência.

E Xudu completou:

Deixe de tanta imprudência,
Deixe eu findar a peleja,
Como é que eu posso cantar,
Tocar e beber cerveja?
Quem tem três gostos é cachorro
Que corre, late e fareja.

Em outra cantoria o poeta Furiba entregou-lhe esta deixa:

Vê-se o pequeno saguim
Pulando de pau em pau

Xudu respondeu:

Admiro o pica-pau
Trepado num pé de angico,
Pulando de galho em galho
Tocô, tocô, tico, tico,
Nem sente dor de cabeça,
Nem quebra a ponta do bico.

Manoel Filó, admirável poeta, descrevendo com Xudu a vida dos pássaros, terminou uma sextilha assim:

Pra tão longe a ave voa,
De volta não erra o ninho.

Xudu, arrematando:

A arte do passarinho
Nos causa admiração:
Prepara o ninho de feno,
No meio bota algodão
Para os filhotes implumes
Não levarem um arranhão.

Um comentário:

  1. Qual é a editora que publicou o livro "Poetas encantadores" e como adquiri-lo? Qual o preço?

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